Estou com saudade de
escrever, saudade de digitar e sentir as teclas macias do teclado ganhando vida
sob meus dedos. Estou com saudade de acordar com uma cena do livro na minha
cabeça, grudada de forma tão forte que não sai até que eu a coloque para fora
em forma de palavras e sorrisos e digitação. Escrever, escrever, escrever. Estou
com saudade dos personagens, dos diálogos, das longas cenas apaixonadas, de
beijos e abraços e risadas e conversas no meio da noite, vivendo como se eu
tivesse passado por aquelas situações, mas na verdade só querendo, querendo,
querendo ser aquela pessoa que eu mesma criei, me sentindo esquisita por amar
uma pessoa que nunca, nunca, nunca existiu.
É triste e é incrível ao mesmo tempo. Inacreditável, eu diria, como eu consegui—como
nós escritores conseguimos—criar pessoas tão reais, e mesmo assim ter certeza
de que elas não existem. Esse texto está ficando terrível, horrível, horrendo,
porque eu estou colocando para fora tudo o que eu penso e eu não sou meus personagens, eu não sou de mentira. Eu sou
de verdade, e pessoas de verdade tendem a enrolar, encher linguiça, serem
rastejantes, pensar rápido e não evoluir nem um pouquinho. Não sou um dos meus
personagens, mas queria ser. Sou não-ficção, mas adoraria ser um romance.