Eu quero flores.
Quero comida na cama, cachorro pulando nos lençóis, farejando. Quero sentir o cheiro de café logo pela manhã, abraçar teu corpo quente, seminu. Quero tranquilidade, uma música no fundo, dançar pela casa. Quero ter um bom dia, aprender a arranhar o violão, entrar para a academia, mas nunca ir, porque na verdade você gosta do meu corpo como ele é, e eu nunca quis mesmo perder aqueles três quilinhos que estão circulando por aqui. Quero sorrir com um gesto bobo, sonhar acordada. Quero vinho às três da tarde, banho de chuva à meia-noite. Quero uma vida pacata, numa casinha apertada, onde nossos livros se amontoam pelos cantos, pois não cabem mais estantes nos corredores. Quero cheiro de torrada enchendo minhas narinas e aquela sensação de que já fiz isso mil e uma vezes, mas estou disposta a contar muito mais. Eu quero seu cheirinho na minha camiseta favorita e todos os seus horários decorados na minha mente, porque meu calendário está adaptado para receber suas folgas. Eu quero você de manhã, acordando comigo, e de noite, me contando como foi seu dia. Quero assistir nosso filme favorito pela quarta vez na mesma semana e ainda rir nas partes mais bobas. Quero uma vida. Qualquer vida, só aquela vida onde você é o centro e a marginal. Onde você é quem faz o sinal e eu vou, deito-me na cama e me torno um pedaço de você, uma vida.